quinta-feira, 19 de maio de 2011

Autobiografia





Nasci na rua Conde do Bonfim na Tijuca, bairro da cidade do Rio de Janeiro (RJ), numa manhã chuvosa de quarta-feira do mês de outubro, às 9:40, talvez por este motivo eu goste tanto de chuva! Filho dos sergipanos Edson e Maria. Meus irmãos são a Cé (Celeste), dois anos mais velha e o Júnior (Edson Júnior) o caçula, 10 anos mais novo. A música, penso eu, já estava comigo antes mesmo de eu nascer. Digo isso porque acredito que a veia artística não é conquistada, ela já vem como acessório do indivíduo. Tenho algumas lembranças de ficar cantando enquanto brincava e meus pais confirmam isso e contam que eu corria pra pegar minha guitarra de brinquedo quando via o Roberto Carlos na TV e ficava ali em frente a tela “tocando”.
Mudamos-nos para Brasília nos anos 70. Foi lá que bem cedo a música passou a tomar conta de mim. Tinha uns 12 anos mais ou menos e guardo dessa época uma lembrança preciosa, o colégio no qual estudava nos levava todas as manhãs de domingo para assistir aos concertos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, os famosos "Concertos Para a Juventude". Impressionava-me com os instrumentos diferentes, o som dos contrabaixos, dos cellos, das trompas... Muito tempo depois essa fonte jorrou em mim quando compus, por exemplo, “Viagem” que tem um arranjo de cordas que me remete àquelas preciosas manhãs de domingo. Nesta mesma época participei do coral no mesmo colégio e aí realmente percebi que era aquilo que eu queria fazer, cantar. Aos quinze anos tive um encontro com o violão. Foi pra sempre. Na adolescência comecei a compor e mostrava pros amigos, pra família. Descobri então os festivais e participar deles passou a ser uma constante. Foram muitos durante muitos anos. Em Brasília, Goiás, interior de Minas Gerais. Tive a sorte de sempre classificar uma duas e até três músicas em cada festival, porém nunca fui vencedor de nenhum apesar de sempre chegar aos primeiros lugares. Fui entendendo então que meu lugar não era ali, e concluí também algo muito importante, não aprovo festivais, não acho que exista música melhor ou pior, afinal existem gostos diferentes, preferências, assim como algumas pessoas preferem ouvir um estilo a outro. Nunca mais participei de festivais. O lucro foi ter conhecido muita gente boa, algumas se tornaram grandes amigos com os quais convivo até hoje. Passei a ouvir muito, ouvia música o dia todo, e conheci então a música de meus ídolos maiores, a música brasileira do Clube da Esquina, Beto Guedes, Flávio Venturini, Lô Borges, Milton Nascimento. Juntarem-se a eles Cassiano, Hildon, Tim Maia, Djavan, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso, Cláudio Zolli. Ouvi muito também a música negra norte-americana que, acredito, tenha sido minha maior influência. Jackson Five, Marvin Gaye, Steve Wonder, Ray Charles, enfim a inesquecível Motown e as produções maravilhosas de Quincy Jones. Chegava o fim da era vinil e o CD era a novidade. Nos shows intimistas que fazia as pessoas perguntavam sempre se eu não tinha um disco gravado. Foi então que em 1994 produzi de forma independente meu primeiro trabalho em estúdio. Chamava-se Destino. Depois deste, consequentemente vieram Lado Zen em 1998, vencedor do Prêmio Renato Russo que foi idealizado pela Secretaria de Cultura do DF em homenagem a um dos maiores compositores da minha geração que havia falecido seis meses antes, duas músicas, Lado Zen e Destino fizeram parte da trilha sonora da novela Serra do Luar da Rede Minas de Televisão, depois vieram o single Celestes em 2000, Hoje à Noite em 2001, com participação especialíssima de Jorge Vercilo, Beto Dourah Coletânea em 2004, uma compilação contendo 19 das minhas músicas mais executadas dos trabalhos anteriores e uma forma que encontrei de comemorar com meu público dez anos de produção fonográfica, também era completamente independente e artesanal e marcou o início do Movimento Cantando Pelas Beiradas, do qual fui idealizador e tinha com ele a pretensão de unir músicos independentes como aconteceu com o Clube da Esquina em Minas Gerais e também com o OutroSsim no Rio de Janeiro, em 2005 lancei o Sorte que pra mim é meu melhor trabalho pelo fato de me sentir maduro. Quando era criança e na adolescência, tive o privilégio de ouvir muita música de qualidade graças ao bom gosto de meu pai que me apresentou Ray Charles, Steve Wonder, Beatles e outras preciosidades. Tudo isso aflorou no momento em que comecei a compor. Fiz uma mistura de sonoridades e estilos, juntei com minha poesia que também foi fruto da poética mineira. Que beleza, estava pronta a liga. A música negra norte-americana me influenciou muito, porém, só no CD Hoje à Noite, lançado em 2001, foi que essa coisa eclodiu de vez. O CD tem nítidas influências deste estilo nos arranjos vocais, nos grooves, nas letras. Ali também ficou evidente pra quem conhece a boa música mundial a forte influência da nigeriana Sade Adú. Se tenho um ídolo, chama-se Sade Adú! Gosto muito de tudo que ela fez e realmente me espelhei em seu jeito suave de cantar, na rítmica latina que ela impõe às suas canções, nos elementos que utiliza, enfim é minha maior influência. O CD Sorte foi pra mim a consagração dessa liga. Ali pude abusar de todas as influências sofridas em minha formação musical. O Sorte ficou consistente e com cara de maduro causando a mesma impressão a muitas pessoas que já conheciam meu trabalho. Sorte mesmo eu tive ao encontrar algumas pessoas que foram marcantes na minha trajetória. Jorge Vercilo foi uma das preciosidades que conheci. Em 1998 fui convidado a realizar um show no Mistura Fina no Rio de Janeiro. Palco requisitado por grandes nomes da música nacional e internacional. Foi um grande momento da carreira. Ouvi no rádio do meu carro uma música de um outro cantor carioca chamado Adil Tiscatte que me deixou impressionado. Parei o carro pra ouvir direito, eu fico meio desligado quando escuto coisa boa! Depois descobri que ele era amigo de Ruy Godinho, produtor artístico, publicitário, radialista e jornalista um grande amigo meu, outra pérola que cruzou meu caminho. Através do Ruy cheguei ao Adil e o convidei a participar do meu show no Mistura Fina. Como sabia que ele e Jorge Vercilo pertenciam ao mesmo movimento cultural, o OutrosSim, pedi a ele o contato do Jorge. Meu encontro com Vercilo foi maravilhoso! Algumas coisas me impressionaram, sua simplicidade e seu tratamento carinhoso. Já conhecia algumas coisas dele até porque sua música mais famosa naquela época tinha sido tema de uma novela global. Ele pediu pra eu mandar meu CD pra ele, nessa época eu morava em Brasília e ele no Rio. Mandei o Lado Zen que era o que eu estava lançando naquele momento. A resposta foi imediata, ele adorou o CD, os arranjos, as letras, a parte técnica. Nossa amizade ganhou força quando o convidei a participar deste mesmo show no Mistura Fina. Cantamos a música Praia Nua dele e Véu e Sintonia de minha autoria e de Vivian Lus, outra pérola. Incrível mesmo foi quando percebi que nossas vozes eram muito parecidas, mesmo timbre, com algumas sutis diferenças como, por exemplo, seus falsetes que são simplesmente fenomenais! Isso é bem simples de se explicar, viemos da mesma escola, curtimos os mesmos cantores durante a fase de formação musical, tivemos as mesmas influências. Jorge Vercilo é hoje um grande ídolo nacional e eu me orgulho muito em tê-lo como amigo. Já combinamos de fazer música juntos, algumas parcerias. Tenho planos de já no meu próximo trabalho ter algo nosso. Em 2001 ele participou do meu CD Hoje à Noite cantando a música Celestes de minha autoria. Ele também assinou os arranjos vocais. A música até hoje é bastante executada em rádios principalmente do nordeste. Edson Júnior é um jovem cineasta pertencente a mais nova geração. Seus trabalhos são sempre voltados para temas sociais. Tive a honra de assinar a trilha sonora de dois de seus trabalhos, o curta A Flor e a Senzala de 2003 e o maravilhoso média-metragem Auroras de Ébano em 2005. Neste a sintonia foi total porque eu acabara de lançar o Sorte que trazia como faixa de encerramento do CD a música Rumores que fala sobre racismo. Foi casa e botão. Ele adorou a música e ela passou a ser então a trilha sonora do filme que trata justamente deste tema, médicos, atores, jornalistas negros que alcançaram uma posição de destaque na sociedade com sua inteligência e seu trabalho. Silvério Lemos também é um nome importante pra mim. Durante um curso de formação de atores ele apresentou o CD Lado Zen ao dramaturgo Ney Ferreira que na época estava produzindo a novela Serra do Luar. O Ney me pediu as músicas Lado Zen e Destino pra serem parte da trilha sonora da novela como tema de amor de protagonistas. Aceitei de imediato, claro! Dois anos depois o Ney escreveu a novela Terra Prometida e mais uma vez me pediu música para trilha da novela e eu cedi Celestes, música do CD Hoje à Noite que gravei com a participação do Jorge Vercilo. O Tex sempre esteve comigo, desde o primeiro trabalho. Um verdadeiro parceiro! amigo, gente muito boa e acima de tudo um exímio guitarrista. Esteve em Los Angeles durante dois anos se especializando no GIT e fez trilha para filmes por lá. Lançou um excelente CD com seu quarteto instrumental que é formado justamente pelos mesmo músicos que habitualmente me acompanham e gravam comigo. Sidnei Brito foi talvez o nome mais importante que já cruzou meu caminho. Grande músico, arranjador, especialista em música gospel que também tem forte influência na música que faço. O Brito foi produtor musical do CD Sorte e no Hoje à Noite ele produziu as músicas Charme, Vinte Sóis, Flash Back, Hoje à Noite e Eu Me Rendo. Naquele momento decidi que ele seria o produtor do meu próximo CD. Todos que se aproximaram de mim durante todo esse tempo são singulares no sentido de terem sido únicos, fundamentais. A maior das pérolas que encontrei chama-se Vivian Lus. Em pouco tempo se tornou parceira constante. Letramos juntos várias músicas e dividimos outras coisas mais. Produziu a maioria dos show que fiz nos últimos oito anos e contribuiu nas produções dos CDs Lado Zen, Celestes, Hoje à Noite e Beto Dourah Coletânea e no CD Sorte além de ser parceira na faixa Croqui também conduziu a produção executiva e assinou as fotos da capa e encarte. Humildemente tentei retribuir tudo isso com a música Lus. Compus essa música vendo-a dormir. muitas outras músicas foram feitas para ela, como por exemplo Charme do Hoje à Noite. Hoje tenho certo que meu estilo está definido. Faço agora o som que sempre quis fazer espelhando meu interior que é conteúdo de minha percepção. Mas não pretendo ficar por aí, quero aprender mais, ouvindo mais e absorvendo mais e sempre criar coisas novas. Utilizar, por exemplo, elementos eletrônicos considero ser uma necessidade e evolução, mas o melhor é que gosto das possibilidades que essa tecnologia me proporciona, mas ainda me sinto flertando com o eletrônico. Loops, interferências sempre valorizam o que pretendo passar. Isso se tornou possível pra mim depois de ter experimentado esses recursos no Hoje à Noite aliados as execuções reais de músicos super-competentes, afirmo até que o Sorte seja uma continuidade do projeto anterior.
Por fim, me considero hoje um feliz aprendiz da minha própria arte. Sem querer filosofar, já filosofando. Sinto que estou em evolução e minhas canções retratam isso. Quero deixar minha obra espalhada por aí, plantada com raízes profundas, como referência para novos compositores, e minha biografia servindo de exemplo pra muita gente. Beijo dourahdo, luz, paz, amor e muita SORTE.
Beto Dourah - Julho de 2005

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